Andrés nunca são demais

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O ambiente está ao rubro, quase 50000 pessoas pintam o estádio do maior e melhor clube do mundo de um azul lindo com um leve escarro vermelho no topo, cantam o mais bonito hino de todos os hinos que me lembro e… eu em casa sentado no sofá a rezar para que o stream legal (não vos aborrecerei com uma explicação detalhada, a la Inácio ou Galamba) que utilizo para poder ver o jogo não pare. Penso que o facto de não acreditar em divindades me tenha tramado nessa pretensão. De qualquer forma, consegui ver o jogo como muitos portugueses, com alguns recuos e avanços.

O jogo em questão, o único clássico que realmente importa para a maioria das pessoas, teria de ser ganho impreterivelmente pelo meu clube, porque eu assim queria e no esquema geral das coisas, a minha felicidade é mais relevante do que a de qualquer outra pessoa que coabita este enorme calhau a que alguém um dia apelidou de “Terra”.

Quando vi pela primeira vez o onze inicial do Porto senti que desta vez o nosso treinador não iria inventar, e que tínhamos uma séria possibilidade de ganhar o jogo. Pelo menos se perdêssemos, nada poderia apontar a Lopétegui pois a equipa que começaria o jogo era a mesma que escolheria se fosse eu o responsável (o meu barómetro de qualidade).

Na primeira parte, os outros (cujo nome recuso-me a pronunciar) jogaram melhor e se não fosse o nosso guarda-redes, por sinal de classe mundial, poderíamos ter ido para o balneário ao intervalo com dois golos sofridos. Os nossos extremos nada produziram e defensivamente estivemos pouco concentrados. Uma palavra de apreço ao Maicon e ao Maxi por se terem mantido calmos e não terem entrado em tricas com os jogadores adversários.

Na segunda parte, depois da palestra, os nosso jogadores entraram com vontade e muito fizeram para mudar o rumo do jogo. De destacar o trabalho incansável de Aboubakar, que um pouco isolado na frente, tentou sempre atacar com discernimento, algo que não acontecia com Brahimi e Corona. Lopétegui colocou Varela em jogo, trocou Rúben Neves (já amarelado) por Danilo e finalmente faz a substituição da praxe que até agora ainda não produziu qualquer efeito. Esta última talvez a única substituição que não se percebeu, pois deu a sensação que tirar o jogador mais influente da equipa naquele momento fosse um tiro no pé.

Ainda se ouviam os assobios que assombravam a decisão, quando Brahimi pega na bola a meio campo e num momento raro nesta partida, passa bem a bola para Varela que, com um toque de calcanhar isola André André e que por sua vez, com uma calma que acompanha apenas aqueles que estão destinados à imortalidade, remata sem hipóteses para o golo que resolvia definitivamente a questão de quem sairia vencedor deste jogo.

Nesse momento, dei por mim a gritar contra tudo e contra todos até que… reparei que estava sozinho e não fazia muito sentido continuar. Para além de um par de outras coisas, nada me dá mais prazer do que ver o meu clube do coração a ganhar aos outros. Não sei porquê… Talvez tenha herdado de algum familiar o espirito de revolta contra a tirania fascista. De qualquer forma consciencializei-me de que poderia ir dormir com um sentimento de dever cumprido. Pensei pela ultima vez como gostei de ver um jogador português e portista a marcar um golo ao nosso eterno rival e como poderá tonar-se um símbolo do clube. Numa altura em que eles escasseiam (os símbolos), temos para além do André André, outro jogador que leva para o campo o peso da responsabilidade de envergar aquela camisola histórica e utiliza-o como combustível para conduzir a equipa à vitória – Rúben Neves.

Deitei-me e adormeci ao som de comentadores desportivos benfiquistamente isentos a trocarem banalidades. Musica para os meus ouvidos…