Tempo volta para trás

Para que não pareça um profeta da desgraça, vou começar este texto expressando o optimismo que senti quando vi o Porto jogar com o Gil Vicente. Foram notórios os constantes movimentos ofensivos da equipa, a defesa jogou com acerto, os laterais subiram com frequência e frequentemente bem e pareceu-me que a equipa poderia crescer para patamares aceitáveis para um época que tem custado a acabar.

O problema é que apesar de ser adepto de futebol, o meu conhecimento da equipa do Gil Vicente é bastante reduzido pelo que depois de uma conversa com um amigo mais atento, fiquei a saber que jogamos contra a equipa “d” dos barcelences. A minha preocupação relativamente ao jogo contra o Braga adensou-se nesse momento. Mas relativamente a este jogo, escreverei mais à frente.

Na semana passada dei por mim a ter uma discussão surreal com um colega portista (numa rede social) que acha que ser sócio é ser mais importante do que ser adepto, e que são as quotas dos sócios que enchem os cofres do nosso clube e que o catapultam para o sucesso. Chamou-me “romântico” porque penso que os adeptos são a alma do clube e que a única diferença entre um sócio e um adepto é a capacidade de o primeiro em contribuir. O que me deixou mais irritado nesse dia não foi a questão do romantismo. O que me irritou foi a incapacidade de algumas pessoas em absorverem factos… Tentar explicar a alguém que as quotas dos sócios têm um peso ridículo quando comparado com o pagamento de lugares anuais, camarotes e as transferências de jogadores e não conseguir passar esta mensagem torna-se frustrante a certa altura. Mas estas conversas são iluminantes pois mostram-me que adeptos casmurros e de palas existem em todos os clubes e de certa forma dá-me a humildade suficiente para aguentar estes ano de insucessos. Se não perceberam a associação, eu explico: saber que há adeptos (sócios) que pensam que são mais do que qualquer outro, e pelo facto de pagarem quotas pensarem que são donos exclusivos das opiniões relativas ao clube, mesmo que sejam baseadas em ilusões e concepções erradas, torna o facto de eu ser um adepto ferrenho mas equilibrado muito mais especial.

Mas voltando ao jogo com o Braga: ontem fomos mais uma vez subtraídos (prefiro ser verboso para que não me possam processar) por um árbitro que nunca (e posso muito bem estar a exagerar) fez uma exibição que não nos prejudicasse. Agora, terá sido essa a verdadeira razão pela qual não conseguimos ganhar? Na minha opinião, não! A esperança numa vitória neste jogo manteve-se depois do Braga se encontrar em vantagem, apenas porque temos conseguido dar a volta a resultados negativos em jogos anteriores. Mas o que se deve reter aqui é que temos começado jogos a perder. E isto tem acontecido, não porque o babuíno escuro tem jogado pela equipa adversária, mas porque temos uma defesa medíocre. Qualquer dos centrais que joga não oferece qualquer garantia de qualidade. Relembro que é um problema que se mantém há 2 anos e neste mercado de inverno contratamos esses colossos defensivos que são o Marega e o Suk (o Marega é bem capaz de ter sido a pior contratação do Porto desde o falecido Vinha). Pode ser que a preparação da próxima época corra melhor dadas as novas contratação para a administração da SAD do nosso clube. Quando há mais cabeças a pensar, geralmente se chega a grandes ideias mais rápido (veja-se o caso da bomba atómica e da invenção do mictório).

Não queria acabar este texto sem fazer uma referência aquilo que geralmente apelido de fanfarronice megalómana, algo que assola principalmente os adeptos dos clubes de Lisboa. Este fim de semana o benfica ganhou (e aqui dou razão ao Jasus, que de forma azeda e com um melão que o obrigou a atravessar portas de lado, analisou o jogo de forma correcta) sem saber como ao sporting. A referência que quero fazer ao fenómeno é esta: existe uma homeoestase futebolística que permite que a “fanfarronice megalómana” se equilibre para que nem todos sofram de delusão e mania de grandeza. Assim, quando os adeptos sportinguistas começam a perder estes sintomas, os adeptos benfiquistas começam a senti-los outra vez. Estes últimos para além desta maleita sofrem também de falta de coerência crónica – o Vitória era um treinador que não “tinha unhas” para aquele Roll Royce; afinal a equipa não era um Rolls Royce mas sim um Toyota Corolla; o Vitória aposta na juventude e afinal é um treinador competente; o Toyota Corolla afinal é um Bugatti; O Bugatti afinal é um Dacia Logan; bem, percebem o que quero dizer certamente (acabara-se-me as metáforas).

Para finalizar, e como estamos já no último terço deste campeonato, penso que é seguro aferir o seguinte: esta época foi mal planeada, estes jogadores não aguentam a pressão de terem de ganhar (falharam quase sempre que os adversários perderam ou empataram) e não vejo como é que esta época se salvará se ganharmos uma taça (o jogo de ontem não me deixou muito optimista). Não desgosto do nosso treinador e penso que poderá ser a pessoa certa para nos pôr a jogar um bom futebol, mas a “estrutura” (como odeio esta palavra) terá de rever os critérios que utiliza na contratação dos jogadores. Não me lembro de um plantel tão desequilibrado e sem opções na defesa. Sempre fomos uma equipa que tinha orgulho dos centrais que produzia… Como gostava de voltar a esses tempos.