Vítima das circunstâncias

Que hoje ninguém me diga que Lopetegui é uma vítima das circunstâncias! Que ninguém me diga que tinha poucos jogadores ao seu dispor, que estava demasiado frio, que fomos roubados no jogo de Kiev, que tivemos azar porque o André André se lesionou e que os assobios destabilizaram tanto a equipa que não conseguiram jogar concentrados!

Peço que o façam, não para benefício próprio, mas porque me preocupo com a vossa saúde mental e com a percepção que as outras pessoas têm acerca disso mesmo. Quando ouço um portista a arranjar 1001 desculpas para justificar o mau momento da NOSSA equipa, começo a lembrar-me de todos aqueles anos em que dominamos o futebol português, com aquele ruido de fundo de benfiquistas e sportinguistas, a justificarem o obvio com teorias da conspiração.

Nós somos diferentes, não porque somos megalómanos, mas porque durante anos lutamos contra um desígnio que nos era imposto por um país centralizado. Quando não sabemos identificar os nossos erros e omissões e culpamos todos, menos os verdadeiros responsáveis, começamos a cometer os mesmos equívocos dos outros, e tornamo-nos num cliché.

O jogo ontem não era importante, pois todos sabíamos que era muito difícil ganhar em Londres ou que o Maccabi ganhasse em Kiev. O nosso treinador também o sabia e dadas as expectativas, ninguém ficaria surpreendido que apostasse numa equipa vocacionada para o ataque. Mas ao contrário de tudo o que é logico, começa o jogo com 3 centrais e 0 pontas de lança… Perdemos bem, nos últimos minutos podíamos ter sofrido mais golos, e não soubemos aproveitar o mau momento de forma de uma das melhores equipas da europa. Podia entrar em considerações técnicas, mas quanto ao jogo, nada tenho mais a dizer.

Já sei que é pecado criticar qualquer acção do NGP, homem que tantas alegrias nos deu e que colocou um clube regional no patamar onde merece: na mente e no coração de milhões de pessoas em todo o planeta (não chegamos aos 14 milhões, mas somos bastantes), tornando-o num clube mundial. Sempre respeitei as posições que tomou, para benefício do NOSSO clube, nomeadamente na protecção que deu aos treinadores que menos contribuíram para o sucesso do Porto. Mas por vezes, não lhe gabo a teimosia.

Como não tenho palas nos meus olhos, vejo alguns dos méritos do nosso estimado treinador. Podem culpa-lo de muita coisa, mas o que é certo é que descobriu o Ruben Neves e apostou nele aos 17 anos. Conseguiu atrair bons jogadores para o nosso clube como o Oliver ou o Casimiro. Mas nunca conseguiu criar um estilo de jogo atractivo que fosse permanente. Alternamos sempre boas exibições, com exibições paupérrimas.

Espero que a equipa encontre o caminho e que Lopetegui encontre uma forma de se tornar no treinador que todos esperamos que seja. Mas começo a ver padrões “a la” Paulo Fonseca que me começam a preocupar.

Todos os ciclos têm um início e um fim e temo que o deste estimado senhor esteja a encurtar-se. Bem sei que teremos que esperar até ao final da temporada para que algo mude (a não ser que saia pelo seu próprio pé) mas mais do que tudo, espero que encontre a chama que parece ter perdido, e nos direcione para o sucesso ainda esta temporada. Só ele o poderá fazer.

Não irei hoje entrar em grandes considerações acerca de jogadores específicos, mas também me parece evidente que o mau momento de forma de alguns deles tem influenciado o rendimento de toda a equipa. De qualquer forma, não é legítimo que imputemos essa culpa também ao treinador.

Acabo então, dizendo o seguinte: parem de relembrar os 5-0 no Dragão, os 3-2 ao Celtic em Sevilha, os 7-0 do Celta, o penalti escandaloso do Naldo ou o manto protector. Não nos serve de nada! Temos jogado mal, e apesar das más arbitragens, deveríamos fazer muito mais e melhor. Por isso peço que não sejam como os vermelhuscos e os esverdeados, que se alimentaram durante uma vida com a memória de glórias que nunca presenciaram. Queiram e peçam mais ao NOSSO clube. Não há mal nenhum nisso!

 

P.S. – a diferença entre um adepto que é sócio, e outro que não o é, é apenas o dinheiro. E quando se capacitarem disso, verão que a superioridade que sentem por poderem pagar quotas e um lugar anual traduz-se apenas em falta de humildade (falo unicamente para quem esta carapuça lhe assenta).

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