Oh Captain! My Captain!

A grande lição que aprendi nestes últimos 34 anos de vida (e primeiros também) é que a vida é feita de momentos agridoces. Nada é tão certo, a não ser a morte e que pagaremos impostos até ao momento final (perdoem-me o MeetJoeBlackismo). Ontem porém quando acordei, senti que pudesse ser diferente.

Não sei se foi a chuva, o vento ou até o cheiro das fossas inundadas, mas senti que estavam reunidas as condições para que o vento da mudança pudesse ser sentido. No entanto, quando o dia finou, o triste fado português entoou alto demais para que pudesse ignora-lo (não era a Mariza que estava a cantar).

Mas por partes: o Porto entrou em campo com uma equipa ambiciosa, vocacionada para atacar, contra um equipa que vinha de uma série de resultados negativos. Como o empate contra o Moreirense ainda estava fresco, contive um pouco as minhas expectativas pois temos alternado boas exibições contra boas equipas, com fracas exibições contra equipas fracas. Parece-me por vezes que os jogadores não se sentem motivados em jogos que lhes dão pouca visibilidade, guardando-se para palcos mais iluminados.

Mal começou o jogo senti que Brahimi, rosto do fenómeno que mencionei, tinha encontrado combustível nas palavras de muitos que como eu o acusam de render pouco, e assumiu a responsabilidade de atacar a baliza do Belenenses como se de um furacão magrebino se tratasse. Apesar de continuar a ver o Porto muito lento nas transições ofensivas, vi que houve maior entrosamento entre os jogadores, que produziram jogadas de fino recorte técnico (sim, escrevi “fino recorte técnico”), mas que não tiveram o efeito desejado. Senti que ontem não era o dia de Aboubakar e que André André, apesar de regular, demonstrou alguns sinais de cansaço.

No entanto, o momento que marcou a primeira parte, foi a lesão do capitão Maicon. Uma lesão que poderá afastá-lo por algum tempo, reduzindo as nossas já reduzidas opções para o miolo da defesa. Mas não foi a lesão que marcou definitivamente a partida mas sim o facto da braçadeira que já foi usada por figuras marcantes do nosso clube como João Pinto ou Jorge Costa, ser entregue a um dos novos símbolos do nosso clube, que com apenas 18 anos, carrega nos seus ombros a mística e força do dragão, com uma maturidade fora do comum.

ruben neves

Na segunda parte, sem aparentemente sentir qualquer peso da responsabilidade que lhe endossaram, Rúben Neves assumiu o meio campo da nossa equipa e tanto a defender como a atacar esteve irrepreensível. É incrível a forma como faz passes longos quase teleguiados e como preenche todos os espaços no meio campo de forma eficaz e eficiente.

Tornou-se aparente que se conseguíssemos marcar um golo, a frágil equipa montada por Sá Pinto se desmoronaria, o que aconteceu aos 53 minutos, após mais uma jogada iniciada na esquerda por Brahimi, que depois de uma série de dribles faz chegar a bola a Corona que de primeira, chuta com sucesso para a baliza adversária.

Pareceu-me uma exibição bem conseguida pela maioria dos nossos jogadores, mas destaco as do Rúben (o nosso herói silencioso), do Brahimi (o nosso herói extravagante) e do Osvaldo (o nosso herói hippie) que conseguiu marcar finalmente um golo e levou o Luís Freitas Lobo quase à ejaculação.

No final do jogo mudo de canal e verifico que a coligação que actualmente governa se manterá no poder por mais 4 anos e foi neste momento que tudo começou a correr mal. Durante o dia pensei que todas as sondagens pudessem estar erradas e que o povo português, outrora imune a narrativas demagógicas e destinadas a incutir o medo no futuro (muito ao jeito de movimentos políticos que tiveram grande sucesso na Europa central em meados do século XX), pudesse confiar o futuro do país a um partido de esquerda. Não porque os intervenientes fossem muito diferentes das suas contra-partes, mas porque estavam cansados de um regime que conseguiu diminuir as condições de vida dos portugueses para níveis que nem os nossos pais assistiram (poderei estar a exagerar, mas mais uma vez, o blog é meu e eu escrevo o que me apetece).

Depois verifico que o Jasus consegue espetar cinco no Sérgio Conceição e aí consciencializo-me que realmente, o dia de ontem não foi diferente de tantos outros. As forças karmicas não produziram nada de bom pelo que o Ghandi e o Buda podem ir para a grandessíssima… espera, de que estava eu a falar?

P.S. – Uma palavra a muitos portistas que conheço que acham que por terem um espírito crítico no mínimo contido, acham que são melhores adeptos do que qualquer outro: a ausência de dúvida não é sinal de inteligência, é apenas um defeito de quem não gosta de pensar.